Transcrevo abaixo, na íntegra, uma postagem do Blogminton onde está retratado em dados estatísticos um mapa da concentração de forças no badminton do Brasil. Trata-se de um excelente material que deve ser analisado e utilizado pela Confederação Brasileira de Badminton - CBBd para ajudar a redefinir estratégias de atuação de desenvolvimento da modalidade. Ao final do texto há conclusões bastante pertinentes do Ricardo Nagato, titular do blog. Leiam:
Levantamento mostra que badminton brasileiro se concentra em poucas forças
O técnico Sebastião Oliveira, responsável pela Miratus, o principal projeto social de badminton no Brasil, me enviou um levantamento elaborado pelo Oreval Marques, que é estatístico, mostrando um retrato preocupante do badminton brasileiro.
O levantamento de Oreval mostra o badminton concentrado em apenas duas equipes (Miratus, do Rio de Janeiro, e FEBAPI, do Piauí), levando-se em conta os resultados (medalhas conquistadas) em competições nacionais e sul-americanas em 2012. Distante das duas primeiras, a Sociedade Hípica de Campinas foi a terceira que mais contribuiu com medalhas nestas competições.
Para o levantamento, Oreval levou em consideração as seguintes competições:
- Nacionais: Curitiba adulto e juvenil; Campinas adulto e juvenil; Arapongas adulto, Porto Alegre adulto e juvenil;
- Sul Americano: Peru.
Foram levados em consideração apenas o total de medalhas no ano, não sendo considerados fatores como tamanho de equipes ou quantidade de torneios disputados. O peso utilizado para ordenar as equipes foi o de quantidade de ouros, seguido pelo de pratas e depois de bronzes.
Selecionando apenas as 4 primeiras equipes, que demonstraram os resultados mais relevantes, considerando-se os critérios acima, ele chegou ao seguinte quadro:
Tomando apenas as medalhas conquistadas pelas 4 equipes acima, Miratus e FEBAPI foram responsáveis por 85% das medalhas de ouro conquistadas.
Elas também foram responsáveis por 79% das medalhas de prata conquistadas pelas 4 equipes.
Por fim, foram responsáveis por 90% das medalhas de bronze conquistadas pelas 4 equipes.
Oreval destaca ainda que não foram computados os resultados do Pan Jr do Canadá, por não haver dados suficientes para a categoria juvenil (imagino que faltaram os nomes das equipes). De qualquer forma, ele observa que o Brasil obteve 16 medalhas no total (3 de ouro, 4 de prata e 9 de bronze), sendo que a Miratus foi responsável por 8 delas (2 de ouro, 2 de prata e 4 de bronze).
Alguns dados a mais
A estes últimos dados, acrescento, então, que a Miratus ficou com 66% das medalhas de ouro, 50% das medalhas de prata e 44% das medalhas de bronze no Pan Jr do Canadá.
Analisando os dados completos das equipes, ou seja, sem levar em consideração apenas as 4 com melhor desempenho, ainda teríamos uma forte concentração. Isso faz todo o sentido, já que essas 4 equipes conquistaram a maior parte das medalhas brasileiras.
Ou seja, levando-se em conta a totalidade de equipes, Miratus e FEBAPI ainda ficariam com 67% das medalhas de ouro, 40% das medalhas de prata e 32% das medalhas de bronze.
Outros destaques relevantes seriam as equipes Fonte e Seareiros, ambas de Campinas/SP. Portanto, além de um projeto social no RJ, temos uma equipe do PI e outras 3 equipes de Campinas/SP. Então, ainda assim teríamos uma concentração do badminton em 3 locais.
Minhas conclusões
Enfim, este tipo de concentração mostra um quadro preocupante para o badminton brasileiro. Temos um quadro de relativa pequena competitividade, visto que há um claro desequilíbrio de forças. Para o desenvolvimento de qualquer modalidade, toda concentração é prejudicial.
Sempre lembro da NBA (liga de basquete norte-americana) e da NFL (liga de futebol americano). Na NBA, a cada ano, as piores equipes do ano anterior têm a prioridade para escolha do draft (seleção dos novos atletas, oriundos das universidades). Na NFL, a verba de televisão é dividida igualmente entre as equipes (acredito que o draft seja semelhante à NBA). Ambas as situações são criadas para criar maior equilíbrio e competitividade nas duas ligas. Isso eleva o nível das ligas como um todo e acaba atraindo mais espectadores, mais mídia e mais patrocínios.
É fundamental desenvolver não apenas novas equipes, mas também o badminton em outras localidades. Isso passa por uma série de fatores, entre os quais destaco: formação de mais professores e técnicos; maior investimento em escolas; fortalecimento das federações.
Se queremos criar e fortalecer equipes, precisamos de mais professores e técnicos. Não há dúvidas. Também precisamos formar árbitros, juízes de linha, árbitros gerais dos torneios.
Para o crescimento da modalidade, precisamos investir na base. Isso passa por forte investimento nas escolas e sua continuidade nas faculdades.
As federações são as responsáveis pelo trabalho de base, competições estaduais, que são um passo anterior às competições nacionais e internacionais. Hoje, elas não têm estrutura alguma, não contam com apoio financeiro e isso inviabiliza totalmente o desenvolvimento nos estados.
Como explicar, então, os resultados obtidos pelas equipes do Rio de Janeiro, Piauí e Campinas? Para mim, são três situações completamente distintas e que merecem um post mais completo. Resumidamente, temos um belíssimo projeto social no Rio de Janeiro (capitaneado brilhantemente pelo Sebastião, que faz um trabalho técnico sensacional e que soube aproveitar, com o mesmo brilhantismo, todo apoio que teve desde o início), um projeto que contou com boa articulação entre federação/prefeitura/iniciativa privada/mídia no Piauí (liderado pelo atual presidente da CBBd, Francisco Ferraz) e uma cidade já consolidada no cenário nacional (Campinas sempre foi a potência nacional, com 2 clubes tradicionais, Fonte e Hípica, cultivando grande rivalidade), agora contando com mais um brilhante projeto social, que é o Seareiros.
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